O Banco Central anunciou ontem uma medida com potencial de injetar R$ 16,1 bilhões na economia. A autoridade monetária decidiu reduzir de 33% para 31% a alíquota dos depósitos compulsórios—dinheiro que os bancos são obrigados a deixar parado no BC — que incide sobre recursos a prazo.
Esses depósitos servem como um instrumento para regular a quantidade de dinheiro em circulação e ajudar no controle da inflação. Com a medida, as instituições financeiras terão mais recursos livres para emprestar.
A nova regra vai vigorar a partir de 1º de julho. Mas, de acordo com o BC, seus efeitos financeiros devem começar a ser sentidos a partir de 15 de julho. O estoque total de recursos recolhidos compulsoriamente pelos bancos hoje é superior a R$ 450 bilhões,sendo que R$ 250 bilhões deste total se referem a recursos a prazo.
NÍVEL PRÓXIMO DO PRÉ-CRISE
Em um momento em que o crescimento econômico patina e o BC mantém a taxa básica de juros (Selic)estável há 10 meses, em 6,5% ao ano, a medida serve como um estímulo à atividade.Segundo a autoridade monetária, a alteração aproxima a alíquota dos níveis praticados antes da crise financeira global de 2008.
A última mudança feita pelo BC nos recolhimentos compulsórios foi no ano passado. A alíquota de depósitos aprazo caiu de 34% para 33%. Já a que incide sobre depósitos à vista baixou de 25% para 21%.
Na avaliação de André Perfeito,economista-chefe da Necton Investimentos, a medida vai ao encontro do discurso do BC de que a lentidão da economia não tem a ver com o nível dos juros no país, e sim com a “obstrução dos canais” que fazem a política monetária ter, de fato, efeito na economia. Tem havido pressão para redução da Selic, mas o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já reiterou que um crescimento estimulado por corte de juros pode alimentara inflação mais à frente.
Perfeito ponderou, no entanto,que o volume financeiro é pouco expressivo se comparado ao estoque de crédito na economia eque a medida pode não funcionar.
—O BC achaque o problema da economia é a falta de confiança. Só que reduzir o compulsório não altera o nível de confiança. O empresário não vai tomar empréstimo só porque há mais crédito disponível. Também não há garantia de que os bancos vão quererem prestar esse dinheiro. É possível que, em vez disso, decidam comprar títulos públicos, como ocorreu na Europa (depois de 2008) — observou o economista.