Juros
Os juros futuros encerraram a sessão regular desta sexta-feira (4) perto dos ajustes do dia anterior, com viés de queda, em um dia no qual os rumos da política monetária americana se mostraram determinantes. Com um relatório de empregos (o chama "payroll") que apontou para pressões inflacionárias fracas nos Estados Unidos em setembro, os agentes se atentaram, na tarde desta sexta, a um discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Jerome Powell, que voltou a indicar que o banco central tentará manter a economia em expansão pelo maior tempo possível.
“Embora a economia enfrente alguns riscos, no geral está — como eu gosto de dizer — em um bom lugar. Nosso trabalho é mantê-la assim pelo maior tempo possível”, afirmou Powell, durante evento organizado pelo Fed em Washington, que debate as ferramentas de política monetária à disposição do banco central. Os comentários do presidente da autoridade monetária americana, contudo, não provocaram fortes movimentações nos retornos dos títulos do Tesouro dos EUA ou nas taxas dos DIs.
Powell, aliás, era aguardado após uma semana marcada por um forte aumento nas apostas de que novas reduções nas taxas de juros estariam a caminho. Hoje, os dados do mercado de trabalho dos EUA indicaram números divergentes na criação de vagas, com revisões para cima nos dados de julho e agosto. No entanto, a inflação salarial voltou a desapontar ao mostrar ligeiro recuo na margem, em setembro. Durante a semana, quem frustrou os mercados foi o ISM, cujos números da atividade industrial e de serviços dos EUA ficaram abaixo do previsto.
“Um corte de juros pelo Fed em outubro parece cada vez mais irrevogável”, afirmou Christin Tuxen, analista-chefe do Danske Bank. O banco dinamarquês projeta que o Fed dará continuidade ao ciclo de afrouxamento, iniciado este ano, e fará com que, em 2020, a taxa de juros fique entre 0,75% e 1,00%. Nos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, há 76,4% de chance de os juros americanos serem reduzidos em 0,25 ponto neste mês.
Com o Fed caminhando para uma maior acomodação monetária, o Danske projeta que o Brasil não ficará incólume a esse movimento e estima que a Selic será cortada em 0,75 ponto porcentual até o fim do ano, chegando à mínima histórica de 4,75%. Com o juro básico em níveis estimulativos, o banco projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acelere de 1% neste ano para 2% em 2020 e, no ano seguinte, para 2,3%.
DI1F20: 5,04% (-0,8 bps)
DI1F21: 4,85% (-3 bps)
DI1F23: 5,96% (-2 bps)
DI1F25: 6,59% (-1 bps)
DI1F27: 6,93% (-1 bps)
Câmbio
A fraqueza recente da moeda norte-americana tem sido causada pela avaliação de que a economia dos Estados Unidos começa a sentir os efeitos nocivos de uma guerra comercial com a China. A série recente de dados abaixo do esperado acabou reforçando apostas do mercado de que o banco central dos EUA (o Federal Reserve) precisará cortar novamente os juros, movimento que melhoraria as condições para emergentes atraírem capital —o que aumentaria a liquidez e ajudaria a baixar o preço do dólar.
Os dados de emprego nos EUA divulgados nesta sexta trouxeram algum alívio sobre os riscos à economia, mas não chegaram a enfraquecer o debate sobre novos cortes de juros nos EUA. De forma geral, os ventos parecem agora mais favoráveis à taxa de câmbio. Além do cenário mais inclinado a corte de juros nos EUA, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação, com maior dinamismo comparada a outros emergentes.
Esse quadro tende a melhorar a atração de capital, em meio a já esperados ingressos de recursos na esteira de operações de empresas e da rodada de licitações de áreas petrólíferas do excedente da cessão onerosa, prevista para 6 de novembro. Tal combo levou estrategistas do Morgan Stanley a iniciar recomendação de compra de real contra peso chileno. O banco privado reconhece o risco de um Banco Central ainda agressivo no processo de afrouxamento monetário, mas mesmo assim vê algum valor em posições favoráveis à moeda brasileira versus pares emergentes, como os pesos mexicano e chileno, “especialmente se os dados continuarem a mostrar sinais de recuperação econômica”.
O clima menos arisco ajudou a reduzir a percepção de incerteza sobre o câmbio. A chamada volatilidade implícita, que mede a expectativa de variação do câmbio, cedeu a 12,07% ao ano, mantendo a rota descendente iniciada no fim de agosto. No fechamento desta sexta, o dólar à vista caiu 0,79%, a 4,0569 reais na venda.
No acumulado da semana, o dólar spot recuou 2,39%, maior queda semanal desde a semana encerrada em 1º de fevereiro de 2019 (-2,91%). O dólar futuro negociado na B3 —onde as operações com derivativos se encerram às 18h— recuou 0,71% no dia, a 4,0640 reais.
Bolsa
O Ibovespa subiu 1,02%, a 102.551,32 pontos. O volume financeiro da sessão somou 15,45 bilhões de reais.
No exterior, numa semana marcada por dados econômicos norte-americanos mais fracos, Wall Street teve fortes ganhos, diante do alívio proporcionado pela queda da taxa de desemprego para perto da mínima de 50 anos, em 3,5%, além de dados moderados sobre a criação de vagas nos EUA, o que atenuou as preocupações de que a economia esteja à beira da recessão. A sessão também foi marcada pelo discurso de Jerome Powell, chairman do Federal Reserve. “Embora nem todos compartilhem totalmente oportunidades econômicas e a economia enfrente alguns riscos, no geral está em uma boa situação. Nosso trabalho é deixá-la assim o máximo possível”, disse Powell.
- VALE avançou 2,53%. CSN subiu 1,68%, GERDAU PN e USIMINAS PNA ganharam 1,96% e 1,47%, respectivamente.
- RD saltou 6,22%, atingindo máxima histórica, após a companhia apresentar a analistas e investidor plano de abertura bruta de 240 lojas em 2020.
- GOL PN ganhou 1,1%, após divulgar dados de tráfego de setembro, com salto de 15,5% na demanda total por assentos em voos da companhia. No setor, AZUL PN fechou em alta de 2,12% em meio a acordo de “stopover” acertado com o governo do Estado de São Paulo.
- BTG PACTUAL UNIT caiu 4,43%, diante do noticiário recente sobre investigações ligadas a vazamento de decisões de juros do Banco Central. ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,48% e BRADESCO PN ganhou 1,02%.
- PETROBRAS PN recuou 0,86%, apesar da alta dos preços do petróleo no mercado externo. Na véspera, o secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, disse que a companhia não está no mandato das privatizações.
Fontes: Valor e Reuters