BRASÍLIA - (Atualizada às19h16) O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros, de 6,5% ao ano para 6%. Com o corte, o colegiado retoma o processo de queda da Selic, interrompido no primeiro semestre do ano passado. A decisão veio em linha com a expectativa dos economistas de mercado.
Para a autoridade monetária, o corte "é compatível coma convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária". Esse calendário inclui o ano de 2020, para o qual a meta de inflação é de 4%.
Em comunicado, o Banco Central (BC) fez uma leitura mais positiva dos núcleos de inflação e vê sinais de retomada da economia nos indicadores de atividade.
"O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária", diz o comunicado.
Na sua reunião de julho, a avaliação do Copom era que os núcleos de inflação eram apropriados. Na linguagem do Copom, "apropriados"são núcleos perto do certo da meta; "confortáveis" são aqueles entre o centro da meta e o piso da meta.
Para o Copom, "indicadores recentes da atividade econômica sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação da economia brasileira." Segundo o colegiado, o cenário do Copom supõe que essa retomada ocorrerá em ritmo gradual.
No setor externo, o BC avalia que "o cenário externo mostra-se benigno, em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias". Mas ressalta que, entretanto, os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem.
Com o corte, o BC coloca fim ao período mais longo em que a Selic permaneceu em um mesmo patamar. Ao todo, o país somou quase 500 dias,mais de 16 meses completos ou 11 reuniões do Copom, com a taxa básica de juro sem 6,5% ao ano -- até então, o menor patamar da série histórica.
Na semana passada, o Valor apontou que, entre 48 instituições financeiras ou consultorias, 44 (ou 92%) esperavam corte da Selic nesta reunião. Ao todo, 25 (ou 52%) projetavam um corte de 0,5 ponto percentual. Outras 19 calculavam queda de 0,25 ponto e quatro esperavam estabilidade.
O colegiado volta a se reunir nos dias 17 e 18 de setembro.
Inflação
O Comitê afirmou que permanecem fatores de risco para a inflação em ambas as direções. "Por um lado, o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado", diz.
"Por outro lado, uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária", afirma.
De acordo com o colegiado, esse último risco se"intensifica no caso de reversão do cenário externo benigno para economias emergentes".
O Copom ainda afirma que o balanço de riscos "evoluiu de maneira favorável". No entanto, o risco ligado à frustração das reformas"ainda é preponderante".
O Copom destaca que "a evolução do cenário básico e,em especial, do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário".
O colegiado ressalta também "que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo". Mas faz a ressalva "que a comunicação dessa avaliação não restringe sua próxima decisão".
"Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", diz.
Reformas
O Copom reconheceu, no comunicado, um avanço com a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno no Congresso (embora não tenham citado explicitamente esse evento), mas enfatizou a necessidade de continuidade do processo de reformas econômicas.
"O Copom reconhece que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que a continuidade desse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural da economia".
"O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes", diz o documento.
"Em particular, o comitê julga que avanços concretos nessa agenda são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva."