O Conselho Monetário Nacional fixou a meta de inflação de 2022 em 3,5% com intervalo de variação de 1,5 ponto percentual para cima o para baixo. O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse que a meta mais baixa não está correlacionada a juros mais altos.
O secretário apresentou dados para rebater críticos que costumam dizer que quando há redução da meta de inflação o governo é obrigado a elevar juros. "Isso não encontra correspondência com a realidade."
Segundo ele, a expectativa de inflação de longo prazo está ancorada na meta. "Meta de inflação mais baixa está associada a uma menor incerteza", destacou. Sachsida destacou ainda que a definição na meta exigiu uma ampla revisão da literatura acadêmica, ampla revisão dos regimes de metas vigentes e exaustiva análise para o cenário brasileiro.
O subsecretário de Política Fiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, Marco Cavalcanti, afirmou que, após análise exaustiva da experiência internacional, julgou-se de "bom tom" e "adequado" continuar o processo de redução da meta da inflação. Segundo ele, definir a taxa ótima de longo prazo é um desafio para qualquer país. Nas avaliações feitas, a meta de inflação brasileira estaria acima de um nível considerado ótimo.
Durante a explicação da meta de inflação de 2022, o subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, destacou que setem uma expectativa de controle dos gastos públicos e isso consequentemente ajuda na redução da meta de inflação. "O teto de gastos abriu possibilidade de redução da meta, que foi sendo realizada", disse.
Teles destacou ainda que, quando a meta de inflação futura é crível, não é necessário subir juros para que a meta seja cumprida. Tudo, na avaliação dele, depende da credibilidade do Banco Central.
Sobre a manutenção do intervalo para cumprimento da meta em 1,5 ponto percentual, Cavalcanti explicou que, se um país tem meta muito alta, é porque pode ter problemas que ensejam uma taxa mais elevada.
Sachsida, destacou que a agenda tributária é importante para o governo e tem que empreendido esforços do governo com o Congresso para viabilizá-la.
Economistas já esperavam o número definido para 2022 e elogiaram a decisão do CMN, mas ressaltaram a importância das reformas fiscais para que a inflação brasileira se consolide em níveis mais baixos de forma consistente.Segundo José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) e ex-diretor do Banco Central, a decisão demonstrou comprometimento da administração atual em trazer a inflação brasileira a patamares "bem mais civilizados".
"O BC dispõe de grande credibilidade", disse Senna,que destacou a ancoragem das expectativas inflacionárias. Reduzir a inflação só é um processo custoso em termos de atividade e emprego quando as expectativas futuras estão longe da meta, o que não é o caso agora, afirmou Senna.
Para o pesquisador do Ibre, um outro passo que poderia ser dado rumo a uma inflação mais baixa é diminuir o intervalo de tolerância permitido para o IPCA, e, futuramente, abolir essa banda. "O número que você dá para a sociedade é o número em que você quer que as expectativas oscilem. Assim,quanto menos número você der, melhor, porque o processo de convergência das expectativas é facilitado", avaliou.
Também ex-diretor do BC e sócio-gestor da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo classifica a estratégia de reduzir gradualmente o alvo central como "apropriada", mas diz que ainda é cedo para avaliar se a trajetória pode ter continuidade. "Esse processo é lento e conquistado pouco a pouco. Foi muito apropriado baixar a meta em 0,25 ponto, mas não dá para ficar reduzindo a meta seguidamente ano a ano."
Isso porque, de acordo com Figueiredo, a redução das metas inflacionárias precisa ser acompanhada de recuperação da solvência fiscal."Ainda temos muitos problemas fiscais. Só vai dar para dizer que a inflação está mais consolidada no nível baixo no dia em que tivermos maior controle das contas públicas. Até lá, o risco sempre existe."
Maurício Oreng, estrategista-sênior do Rabobank, concorda, mas destaca que a redução da meta de inflação é o que estava ao alcance do CMN e já traz benefícios à economia. "A hipótese por trás disso é a aprovação das reformas, que precisam se materializar para que a meta de inflação possa chegara 3%", disse.
De acordo com Oreng, diminuir a meta é importante para que a taxa de juros estrutural chegue a níveis próximos de 7% no curto prazo e também para reduzir o nível de desindexação da economia. "A melhor forma de desindexar a economia é ter uma meta de inflação baixa e entregar uma inflação baixa."